29 de out. de 2007

Manoel ... de Barros

“No descomeço era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá, onde a criança diz:
eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar não
Funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta,
que é a voz
De fazer nascimentos -
O verbo tem que pegar delírio.”


Ler Manoel de Barros é um convite ao prazer constante com o susto provocado pelo uso insólito da palavra. O primitivo, o nada, o ínfimo são os substratos constantes da sua construção poética. O estranhamento diante do universo reinventado por ele nos torna, de alguma forma, co-autores da sua poesia. Desnomeando, Manoel de Barros não resignifica a palavra, mas a liberta de um pressuposto. “Desaprender oito horas por dia ensina os princípios”. Desaprender desafia o abandono de um prévio saber para encontrar a essência do desconhecido.

Cabe ao poeta a transgressão. Cabe ao poeta não apontar o delírio, mas despertá-lo. Manoel Wenceslau Leite de Barros, nascido no Beco da Marinha em Cuiabá/MT em 1916, diz no prefácio do seu Livro Sobre Nada: “O que eu queria era fazer brinquedos com as palavras. Fazer coisas desúteis. O nada mesmo. Tudo que use o abandono por dentro e por fora”. É Manoel de Barros este fazedor de verbo delirar, burilador das emoções em seu nascedouro.


"Escrevo o idioleto manoelês archaico (Idioleto é o dialeto que os idiotas usam para falar com as paredes e com as moscas). Preciso de atrapalhar as significâncias. O despropósito é mais saudável do que o solene. (Para limpar das palavras alguma solenidade _ uso bosta.) Sou muito higiênico. E pois. O que ponho de cerebral nos meus escritos é apenas uma vigilância pra não cai na tentação de me achar menos tolo que os outros. Sou bem conceituado para parvo. Disso forneço certidão."

P. S.: "Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro. Arte não tem pensa: O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê. É preciso transver o mundo. Isso seja: Deus deu a forma. Os artistas desformam. É preciso desformar o mundo: Tirar da natureza as naturalidades". (MB).
Meu carinho agradecido a Cla e a Val que me permitiram este momento de transver o mundo por meio de Manoel de Barros.



fontes:
http://www.releituras.com/manoeldebarros_bio.asp
http://www.revista.agulha.nom.br/manu.html#bio
http://www.redutoliterario.hpg.ig.com.br/poesia/manoeldebarros.htm

texto: Lela Vasconcellos
arte: Valéria C.

19 de out. de 2007

Everton Rodrigo (1981)

O Everton é parceiro antigo de música e de Poesia. Uma cara simples, sossegadão, de fala mansa. Amigo daqueles pra toda a vida. Um sonhador com singular sensibilidade poética. Transeunte atento, sempre a desdobrar palavras de esmero da algibeira. Sabe como ninguém revelar imagens de encanto de situações corriqueiras e de outras nem tanto assim, delas abstraindo múltiplas reflexões, lições maiores.
Foram seus versos que em mim fizeram despertar a curiosidade sobre o cotidiano citadino, sobre a vida que se esconde por detrás da monotonia, como um sol toldado por prédios.
O Everton é daqueles poetas que têm inata a capacidade de assimilar as mudanças de seu tempo – antenado que é – traduzindo-as em olhares abrangentes, redescobrindo em beleza e com irresistível arte a crueza do ramerrão.
Sua poética impregna no imaginário de quem o lê, suscitando outros prismas, outras possibilidades de encarar a mesmice, emergindo-nos da superficialidade, das rasas percepções de mundo.
Um outro seu traço marcante é sem dúvida a simplicidade de seu estilo, característica que em nada prejudica a pujança, profundidade e extensão de sua mensagem.
Teremos aqui o privilégio de ler em primeira mão um de seus mais recentes poemas, o “lotes lindeiros”, fornecido pelo próprio poeta, especialmente, para a Árvore dos Poemas, além de outros escritos de minha estimação.
Pretendi compilar momentos diversos de sua obra para propiciar, sem refugir à proposta deste blog, um panorama o mais generoso possível de suas criações literárias, embora, confesso, tenha sido muito difícil a escolha, diante de tantas outras preciosidades que gostaria de compartilhar. É claro que muitas ficaram de fora, mesmo porque não é nossa intenção esgotar a descoberta dos poetas aqui lembrados. Na verdade, na verdade, vontade não faltou de colar aqui todos os poemas dele, mas...
Em suma, aos que acreditam na Poesia e no Amor como horizontes possíveis, eis que o convite está feito!
Pois bem, vamos ao que interessa, que o resto é papo furado:


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apenas indo (carta a um amigo)

e nós, como estamos?
apenas vivendo
incontentes com o salário
jogando baralho
aproveitando os prazeres
momentâneos mas reais
correndo pra lá e para cá
apressados como sempre
sem saber onde chegar
gastando dinheiro
gritando na mesa do bar
trabalhando, desconhecendo
para quem o dinheiro vai
almoçando com a família
num domingo qualquer
assistindo o futebol
dividindo o sofá
torcendo como se o mundo fosse acabar
sofrendo coa bola na trave
até o jogo terminar
acordar e perguntar de novo
e nós, como estamos?
apenas indo...
nada mais nos emociona não
aproveitando os prazeres
de acordo com o que
a vida nos proporciona
viajando quando há tempo
levando os filhos pra passear
traçando um objetivo
realizando sempre menos
do que queria realizar
procurando alguém pra idolatrar
é assim que nós estamos
e você, como é que está?


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Vago

Vago pelo vago
Venda preta
Em olhos fechados
Silêncio absoluto
Tinta sobre a tela
Nada sobre o nada


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A musa

A musa me salta aos olhos
Agora o espelho sou eu
Enfim... Narciso se acha feio
! E o tempo pára !
( .................................... )
Para vê-la passar
Como um toque de Midas
Ela sofistica o ambiente
E somos reles mortais
É como se precisássemos de sua beleza
É como se fosse feita, esculpida
Vai como sempre chega
Um sonho que se repete
Realiza por alguns minutos
Meus mais simples desejos
Ela é mesmo assim
Ela é mesmo linda


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Enquanto a vida não vem

É mais uma manhã
Acordo já pensando na hora de dormir
Mais uma vez estou atrasado
¿ Atrasado pra que mesmo ?
No ônibus em meio ao rotineiro tumulto
Observo os rostos cansados das pessoas
Tento adivinhar seus futuros e o que pensam
Achar um significado e sentido para a vida delas
Assim como tento achar um para a minha
Percebo que já não prevejo mais o futuro
Como quando era criança

A cidade é a mesma
Dos velhos temporais
Do trânsito parado e chato
Da poluição visual
Das pessoas apressadas
Em busca de sabe-se lá o quê...
Me emociono com o mendigo que sem abrigo
Procura comida na lata de lixo
! Que mentira ! Não me emociono mais
Também estou muito apressado pra isso

Sigo sonolento e entediado
Até a hora que a vejo
Ai penso que consegui achar
Um significado e sentido
Pra minha vida

A noite chego em casa
Deito já pensando na hora de acordar
E na hora de dormir do outro dia
O corpo pede descanso
Mas a mente ainda está a mil por hora
A pensar no dia que passou
E no mendigo que procurava comida no lixo
! Que mentira ! estou muito cansado pra isso


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Letícia

\....se eras tão doce
se eras delícia
pobre de mim
quanta imperícia
só sabia seu nome
se chamava Letícia!


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um raro prazer

uma vida dupla
um duplo sentido
um sentimento mútuo
um monte de amigos
uma palavra sincera
um vocabulário fugaz
um ponto perto do zero
um pouco demais
uma história diluída
uma água pura
uma bala perdida
uma verdade dura
um sonho de consumo
um consumo fácil
um pesadelo enquanto durmo
um pesadelo acordado
uma eternidade
uma declaração eterna
uma realidade
uma vida moderna
um modernismo atual
uma atualidade pobre
uma insanidade mental
uma decisão nobre
um prazer momentâneo
um raro prazer
uma decepção que passamos
uma decepção sem ver
uma noite sem dormir


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Lotes lindeiros

Nos lotes lindeiros da cidade
A necessidade de ter e ser...
Nos idos tempos
A tua idade, a fragilidade.
O medo de perecer
No corpo a cabeça pensa
E pesa o fato
De procurar se achar
Sem se perder


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Luta incansável

Como louco,
....................correrei por todos os lados
....................cobrirei espaços com mensagens
..................................................[mal acabadas
....................procurei em anúncios classificados
....................nesses dias tão marcados
....................pela luta incansável por você.

Depois, sóbrio,
....................lembrarei que não vou mais te achar
....................a não ser no fundo de minha memória
....................em cartas, dentro de uma cova
....................ou em minha corrida com os anjos
..........................................................[para o céu.


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Fotolog do poeta: olhares sobre a cidade
O Everton também é letrista. Mergulhe em uma de nossas parcerias: mar de primavera

8 de out. de 2007

HILDA HILST (1930-2004)





Nesta árvore planta-se fruta-pão. Desta árvore colhe-se o mais bendito dos pães: a palavra. E eu quero fazer balangar nestes galhos os versos daquela que, para mim, não é uma poeta: trata-se da poeta. Mais dizer não digo, porque mais dizer seria redundância.
Hilda Hilst, mais Caio F. Abreu e Clarice Lispector, compõe o tríptico de fornecedores da chave que abriu as portas da ponte pênsil que transportou o jovem para a vida adulta. Por um período, compreendido entre os 20 até os meus 27, 28 anos, não seria verdadeiro de minha parte dizer que li as palavras de Hilda Hilst. Eu as consumi. E fui consumido por elas.
Como rebordosa, ainda convivi com ela. Fui amigo dela. Desde a primeira vez que nos falamos, em uma Feira do Livro, em Campinas (SP), nunca, jamais, ela me tratou baseada na relação ídolo/fã. Nem eu a ela, pela via inversa. Fomos amigos de verdade. E isso, juro, em nada abalou a minha admiração pela sua poesia. Antes, ao contrário. Conviver com Hilda Hilst foi, sim, uma lição de generosidade. Assim ela era comigo: generosa, imensamente generosa. Entre os vinhos que tomávamos, ela gostava que eu lesse em voz alta os textos que ela produzia. Algumas vezes ela os alterava, a partir de ouvi-los de mim. Eu dizia: não faça isso, Hilda. Ela respondia: faço, sim, Marcos. Sua entonação de voz me fez ver o que realmente preciso dizer. E tomávamos mais um cálice de vinho. Dos bons, sempre. Antes de deixá-los com o que realmente interessa: a poesia de Hilda Hilst, apenas gostaria de dizer que me foi humanamente impossível ter passado incólume por esta convivência tão estreita. Chego a imaginar que ninguém passaria. Apenas não consegui decifrar se ela possuía ou era possuída pelo Verbo. Alguém se dispõe a enfrentar o enigma?

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O que me vem, devo dizer-te DESEJADO,
Sem recuo, pejo ou timidezes. Porque é mais certo mostrar
Insolência no verso, do que mentir decerto. Então direi
O que se coleia a mim, na intimidade, e atravessa os vaus
Da fantasia. Deito-me pensada de bromélias vivas
E me recrio corpórea e incandescente.
Tu sabes como nasceu a idéia das pontiagudas catedrais?
De um louco incendiando um pinheiro de espinhos.
Arquiteta de mim, me construo à imagem das tuas Casas
E te adentras em carne e moradia. Queixumosa vou indo
E queixoso te mostras, depois de te fartares
Do meu jogo de engodos. E a cada noite voltas
Numa simulação de dor. Paraíso do gozo.

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De montanhas e barcas nada sei.
Mas sei a trajetória de uma altura
E certa fundura de águas
E há de me levar a ti uma das duas.
De ares e asas não percebo nada.
Mas atravesso abismos e um vazio de avessos
Para tocar a luz do teu começo.
Das pedras só conheço as ágatas.
Mas arranco do xisto as esmeraldas
Se me disseres que é verde a dádiva
Que responde as perguntas da Ilusão.
E posso me ferir no gelo das espadas
Se me quiseres banhada de vermelho.

Em minhas muitas vidas hei de te perseguir.
Em sucessivas mortes hei de chamar este teu ser sem nome
Ainda que por fadiga ou plenitude, destruas o poeta
Destruindo o Homem.

Hoje te canto e depois no pó que hei de ser
Te cantarei de novo. E tantas vidas terei
Quantas me darás para o meu outra vez amanhecer
Tentando te buscar. Porque vives de mim, Sem Nome,
Sutilíssimo amado, relincho do infinito, e vivo
Porque sei de ti a tua fome, tua noite de ferrugem
Teu pasto que é o meu verso orvalhado de tintas
E de um verde negro teu casco e os areais
Onde me pisas fundo. Hoje te canto
E depois emudeço se te alcanço. E juntos
Vamos tingir o espaço. De luzes. Se sangue.
De escarlate.

Lavores, cordas e batalhas
O que me vem da alma. Lavor
Porque trabalho sobre o teu rosto
De palha: construo o impossível
Meu senhor. Cordas, porque te amarro
Com as turquesas informes do desejo.
E um sem fim de batalhas
Porque prender a ti num coração de fêmea
É querer lavores: o quebradiço constante
Porque tento com a palha
A finura perfeita de um semblante.
E o que deve fazer
Quem não se lembra mais do mais perfeito
E de si mesma só tem o humano gesto?

*** quatro poemas extraídos do maravilhoso livro SOBRE A TUA GRANDE FACE, editado em 1986 pela Massao Ohno Editor e que é todo enriquecido por lindos grafismos de Kazuo Wakabayashi.

Cultivado por Marcos Pardim

3 de out. de 2007

Ascenso Ferreira - 1895 - 1965

Sou pernambucano de Palmares, cidade situada a 120 km da capital Recife, e portal da Zona da Mata Sul. Uma cidade no centro de uma região predominantemente canavieira, rodeada por engenhos e usinas. Cresci ouvindo seus codinomes na boca do povo, nas rádios, nos jornais: “A capital do açúcar”, “A terra dos poetas”, “Flor do Una”. Foi ainda garoto que ouvi falar de um ilustre poeta local, morto em 1965, e cujo nome fora dado a uma escola pública. À época ainda não tinha interesse por poesia, mas, achava legal saber que da minha cidade saíra um poeta de renome, que freqüentava os livros de literatura; participou ativamente do movimento literário de seu tempo; a Semana de Arte Moderna, e o Modernismo em si. Um poeta palmarense que tornou-se amigo de Manuel Bandeira, Mario de Andrade, dentre outros.

"os poemas de Ascenso são verdadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha moravelmente a alma ora brincalhona, ora pungentemente nostálgica das populações dos engenhos e do sertão". (Manuel Bandeira)

"(...) depois que as personalidades dos iniciadores se fixaram, só mesmo Ascenso Ferreira trouxe pro modernismo uma originalidade real, um ritmo verdadeiramente novo. Esse é o mérito principal dele ao meu ver, um mérito inestimável". (Mario de Andrade)


Ascenso soube traduzir muito bem o ambiente em que vivia, um regionalista nato, nos deixou sua obra nas páginas de "Catimbó" (1927), "Cana caiana" (1939), "Poemas 1922-1951" (1951), "Poemas 1922-1953" (1953), "Catimbó e outros poemas" (1963), "Poemas" (1981) e "Eu voltarei ao sol da primavera" (1985). E também teve alguns poemas musicados, como “Oropa, França e Bahia”, “O trem das Alagoas”, ambos por Alceu Valença. Então, lembrei de dividir aqui na nossa Árvore o meu conterrâneo com vocês.



FILOSOFIA


Hora de comer — comer!

Hora de dormir — dormir!

Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!


“OROPA, FRANÇA E BAHIA"


(Romance)Para os 3 Manuéis: Manuel Bandeira Manuel de Souza Barros Manuel Gomes Maranhão


Num sobradão arruinado,
Tristonho, mal-assombrado,
Que dava fundos prá terra.
( "para ver marujos,
Ttituliluliu!
ao desembarcar").


...Morava Manuel Furtado,
português apatacado,
com Maria de Alencar!


Maria, era uma cafuza,
cheia de grandes feitiços.
Ah! os seus braços roliços!
Ah! os seus peitos maciços!
Faziam Manuel babar...


A vida de Manuel,
qque louco alguém o dizia,
era vigiar das janelas
toda noite e todo o dia,
as naus que ao longe passavam,
de "Oropa, França e Bahia"!


— Me dá uma nau daquelas,
lhe suplicava Maria.
— Estás idiota , Maria.
Essas naus foram vintena
Que eu herdei da minha tia!
Por todo o ouro do mundo
eu jamais a trocaria!


Dou-te tudo que quiseres:
Dou-te xale de Tonquim!
Dou-te uma saia bordada!
Dou-te leques de marfim!
Queijos da Serra Estrela,
perfumes de benjoim...


Nada.
A mulata só queria
que seu Manuel lhe desse
uma nauzinha daquelas,
inda a mais pichititinha,
prá ela ir ver essas terras
"De Oropa, França e Bahia"...


— Ó Maria, hoje nós temos
vinhos da quinta do Aguirre,
uma queijadas de Sintra,
só prá tu te distraire
desse pensamento ruim...
— Seu Manuel, isso é besteira!
Eu prefiro macaxeira
com galinha de oxinxim!


"Ó lua que alumias
esse mundo de meu Deus,
alumia a mim também
que ando fora dos meus..."
Cantava Seu Manuel
espantando os males seus.


"Eu sou mulata dengosa,
linda, faceira, mimosa,
qual outras brancas não são"...
Cantava forte Maria,
pisando fubá de milho,
lentamente no pilão...


Uma noite de luar,
que estava mesmo taful,
mais de 400 naus,
surgiram vindas do Sul...
— Ah! Seu Manuel, isso chega...
Danou-se de escada abaixo,
se atirou no mar azul.


— "Onde vais mulhé?"
— Vou me daná no carrosé!
— Tu não vais, mulhé,
— mulhé, você não vai lá..."


Maria atirou-se n´água,
Seu Manuel seguiu atrás...
— Quero a mais pichititinha!
— Raios te partam, Maria!
Essas naus são meus tesouros,
ganhou-as matando mouros
o marido da minha tia !
Vêm dos confins do mundo...
De "Oropa, França e Bahia"!


Nadavam de mar em fora...
(Manuel atrás de Maria!)
Passou-se uma hora, outra hora,
e as naus nenhum atingia...
Faz-se um silêncio nas águas,
cadê Manuel e Maria?!


De madrugada, na praia,
dois corpos o mar lambia...
Seu Manuel era um "Boi Morto",
Maria, uma "Cotovia"!


E as naus de Manuel Furtado,
herança de sua tia?


— continuam mar em fora,
navegando noite e dia...
Caminham para "Pasárgada",
para o reino da Poesia!
Herdou-as Manuel Bandeira,
que, ante a minha choradeira,
me deu a menor que havia!


— As eternas naus do Sonho,
de "Oropa, França e Bahia"...



A FESTA




Minha filhinha, Papai Noel!

É uma figura tragicômica!

Não se iluda com os seus enredos!

Pois que no meio dos seus brinquedos!

Virá um dia a bomba atômica!.




[Este poema, segundo sua esposa, nasceu depois de um verdadeiro surto ao chegar em casa por época natalina, e, ter destruído toda a decoração. Trancou-se no quarto e saiu mais tarde com os versos num papel.]





Muito obrigado, meus queridos!

Mais aqui: http://www.secrel.com.br/jpoesia/af.html#oropa