21 de dez. de 2007

Henriqueta Lisboa

"Não haverá, em nosso acervo poético instantes mais altos do
que os atingidos por este tímido e esquivo poeta."
Carlos Drummond de Andrade


Henriqueta Lisboa 1901 - 1985

Hoje venho falar um pouco de Henriqueta Lisboa, mineira de Lambari.
Pouco conhecida do público, mas muito elogiada pela crítica. Tem em sua obra poesia, traduções, ensaios e conferências.
Trocou correspondências com Cecília Meireles, Mario de Andrade e Carlos Drummond.

O interessante de Henriqueta para mim em este ano de 2007 é reencontrar uma poeta que conheci qndo criança. Henriqueta foi uma das primeiras poetas a escrever poemas para crianças. E eu conheci o texto de Henriqueta quando criança, nunca mais li e agora em 2007 reencontrei Henriqueta por acaso e com muita alegria...


Então senhoras e senhores com vocês, Henriqueta Lisboa!


Calendário
Calada floração
fictícia
caindo da árvore
dos dias
Em Reverberações (1976)

Horizonte
Alma em suspiro
pelo encontro
do que fica
sempre mais longe
Em Reverberações (1976)

Esse despojamento
Esse despojamento
esse amargo esplendor.
Beleza em sombra
sacrifício incruento.

A mão sem jóias
descarnada
pureza das veias.
A voz por um fio
desnuda
na palavra sem gesto.

O escuro em torno
e a lucidez
violenta lucidez terrível
batida de encontro ao rosto
como uma ofensa física.

Na imensidade sem pouso,
olhos duros
de pássaro.
Em A Face Lívida (1945)

Não deixem de visitar o sítio de Henriqueta Lisboa
e a comunidade de Henriqueta Lisboa no Orkut.
Boas Festas plantadores e leitores da Árvore.
Feliz Natal e um 2008 excelente!
Pedro Pan

8 de dez. de 2007

Marize Castro

Olá, amigos!

Hoje trago a esta árvore uma das mais belas vozes da poesia contemporânea do Rio Grande do Norte: Marize Castro

A poesia de Marize Castro me emociona. Ela é suave e intensa, de um lirismo extremamente belo e seus versos dialogam com autoras como Ana Cristina César, Orides Fontela e Virginia Woolf.

Marize Castro é uma das minhas melhores descobertas na poesia. Sou fã mesmo e espero que vocês também gostem.

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Vinho

Se o queres seco
para molhar a garganta
eu o quero suave
para reinventar
essa chama
se o queres branco
para velar a virgem
eu o quero
vermelho
do porto
para aportar
as paixões
que me dividem
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Provérbio

Em todo poema
há uma hiena
pronta a rir
do leitor
que se atreva
a fugir
sem receber
a senha.
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À Margem
a Ana C.

Recebi pelo correio
a blusa de seda negra.
Não a vesti.
Espero instruções in loco.
Corto os pulsos
ou me enforco?
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Descalça

Estou descalça e tenho sono.
Os pássaros daqui não me acordam.
Sou acordada por aves de outras castas.

Outras esferas.
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Solar

Cadáveres despertam depois do amor.
Lágrimas choram e se estrangulam.

Não sou a mulher que você vê.

Não sei o que é o inverno
- nunca vi a neve.

O meu ofício é reinventar asas para o sol.
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Predestinada

Nua, às três da madrugada,
ainda escavo minas
instaladas em minha alma.
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Néctar

A verdade aproxima-se.
Olha-me com os olhos
abismados da beleza.

Não sou a mulher
que corta os pulsos e se joga da janela
nem aquela que abre o gás
nem mesmo a loba que entra no rio
com os bolsos cheios de pedra.

Sou todas elas.

Escrever me fez suportar todo incêndio

– toda quimera.
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Mais: Marize Castro nasceu em Natal/RN, poeta, jornalista, autora dos livros Esperado ouro (2005), Poço. Festim. Mosaico. (1996), Rito (1993) e Marrons Crepons Marfins (1984).