26 de ago. de 2007

Tonho França



Tenho o privilégio de conhecer pessoalmente Tonho França. É meu conterrâneo.
Seu nome completo é José Antonio Muassab França. Ele é nascido em Guaratinguetá, em abril de 1965.
Aconteceu-lhe o sucesso com a publicação de seu livro “Entre parênteses” (2002). Em seguida, Tonho veio com “Sinos de Outono”, onde “já delineia seu estilo que se intensifica, sem por isso repetir-se”.
Com seu livro mais recente, “Blues à tarde”, foi vencedor no 1º Concurso de Poesia, realizado na Academia Brasileira de Letras, pela ABRACI, em dezembro, na categoria Profissional, com a poesia que dá título ao livro.
Ministra Oficinas de Poesia e trabalhos voluntários na área cultural para Ongs.
Como ele mesmo afirma: “ Escrevo não para agradar ou convencer. Escrevo o que minha alma grita e meu coração extravasa. Por devoção à Arte, escrevo por ser extremamente a verdade.”
É uma pessoa de trato fácil, de fala mansa. E ele declama. Quando a gente o vê declamando, ele parece se transfigurar... e se transforma ele-mesmo na sua própria Poesia.

Dora Vilela

Ei-lo:

A POESIA VENCEDORA DO I CONCURSO CARIOCA DE POESIA
Blues à tarde ( com flauta doce...)

Pausa à tarde ecoa flauta doce
Pelos canteiros da avenida
Brilha um alecrim-de-angola distraído
O charuto cubano mantém-me sóbrio
Apesar do cheiro de anis
(não aspiro à pressa dos prédios e dos homens)
Os elevadores presos no subsolo
Deixam-me com sensação de liberdade e improviso
(lembram-me blues, solos de blues)
Ainda tenho uma ampulheta,
Uma estatueta de louça
Fotos onde amarelam sorrisos de tantos amigos
(todos ali estáticos como se não houvessem partido)
Um sax americano dos anos sessenta
E alguns selos antigos
(o camelô da esquina vendia-me até sonhos...)
mas o charuto cubano é legítimo
essa lágrima que verte sozinha, é legítima
o verso que hoje não escrevi
fez-se por si e é legítimo
e essa pausa à tarde que ecoa flauta doce,
faz o sol pôr-se em mim, sol em mim
solos de blues,
solos de blues,
solos de mim...



GRÁVIDA _

a moça cálida passeia,

a vida adorna o vestido: lua cheia.



DIAS...


Esvai-se sorrateiro com os dias,

O que nos é mais caro, precioso

Que não se substitui, não silencia.

E assim, continuamos a vida,

Eternizando as ausências,

Como se supríssemos as carências.

(inconsciente anestesia)

Alimentando o álbum de fotografias.



HOJE NÃO TEM POESIA


Mas tem café, bolachas

Pão com manteiga,

Uma receita de bolo

Que era de minha avó-

Hoje não tem poesia,
Sobre a mesa, geléia, torradas macias

Toalha de antigo bordado encontra

O passado sobre a cadeira vazia.



VAI...


Deixe o tempo na varanda,

Faz seu dever de casa,

Não espere, a vida cansa.

Não se alcança nada.

Acredite na moça da esquina,

Que leu sua mão.

Enxuga os olhos na rotina azul

Esgarçada, improvisa um sorriso,

Desce as escadas,

Não repare nos detalhes,

Eles não dizem nada,

Lembra o cheiro das quaresmeiras,

E se conforta.

O destino tem surpresas...

Estão todas depois da porta.



CONCRETISMO...


Vejo-me entre arranha-céus, cinzas

Concretos, luzes, avenidas, semáforos,

Esquinas com perfumes e moças

Pedestres nas faixas

A vida na faixa

Meu rosto não tem marca de nenhum batom

No sobretudo uma rosa vermelha

Um poema de Drummond na ponta da língua

Um piercing tatuado no busto da praça

Um menino dorme no chão

(a vida na faixa: contramão)

No sobretudo uma rosa vermelha

Drummond na ponta da língua

Arranha o céu

Arranha

Em vão


TONHO FRANÇA



Cultivado por Dora Vilela
garimpagem e arte modificada de imagem por Valéria C.

18 de ago. de 2007

Mario Quintana 1906 - 1994



Durante minha adolescência a poesia começou a dançar ante meus olhos. A coluna semanal "Do Caderno H", no jornal Correio do Povo, assinada por Mario Quintana, me encantava. Passei a perseguir sua escrita vorazmente e nunca mais o perdí de vista. Ele me transmitia ternura mesclada a uma ironia brincalhona.
Quando meu coração batia mais forte, a poesia me comichava e ia parar nas folhas de cadernos no lugar das matérias a que eram destinados. O responsável por isto foi este poeta perspicaz, brincalhão, debochado, que também trabalhava sériamente como tradutor para a Editora Globo e escrevia em revistas e jornais. A sua figura frágil por fora transbordava uma riqueza interior que o tornava imenso a meus olhos. Traduziu obras de diversos escritores estrangeiros como Lin Yutang, Voltaire, Virginia Woolf, Maupassant, dentre outros. Colaborou para que obras como Em Busca do Tempo Perdido, de Proust, fossem lidas por brasileiros que não dominavam a língua francesa. Ao todo, Quintana foi tradutor de 138 obras para o português.
Como autor interpretou seu cotidiano de uma forma leve, risonha, faceira. Ele falava das ruas, da cidade, do tempo, do amor, da vida, da morte... Ele me falava 'ao pé do ouvido'.
Escreví-lhe, naquela época, uma longa carta que nunca enviei. Vivendo na mesma cidade e transitando pelas mesmas ruas, nunca o conhecí pessoalmente. Levo em mim seu mesmo espanto acriançado frente aos absurdos do mundo, do belo e do feio.
Faço eco as palavras de Érico Veríssimo que disse:
"... descobri outro dia que o Quintana, na verdade, é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora. (Ah! Como anjo seu nome não é Mario e sim Malaquias)..."
e complemento com o que escreveu Sérgio Napp:
"Mario Quintana, o que não gostava da arquitetura moderna por que esta não sabia fazer casas antigas; que afirmava que o domingo era um cachorro escondido sob a cama; que se transfigurava na figura do pai; que possuía um amigo que deixara de crer ao ouvir o sermão da montanha recitado por um castelhano; que afirmava que os cabelos da morte se entrelaçavam de flores e que suas mãos não tinham anéis; e que traçou, feito um mestre, o mapa da cidade, não era um homem solar, muito pelo contrário: a noite é que o encantava."

Clarice Ge

-----------Mario Quintana-----------

Da Paginação
Os livros de poemas devem ter margens largas e muitas páginas em branco e suficientes claros nas páginas impressas, para que as crianças possam enchê-los de desenhos - gatos, homens, aviões, casas, chaminés, árvores, luas, pontes, automóveis, cachorros, cavalos, bois, tranças, estrelas - que passarão também a fazer parte dos poemas...

Leituras
Não, não te recomendo a leitura de Joaquim Manuel de Macedo ou de José de Alencar. Que idéia foi essa do teu professor?
Para que havias tu de os ler, se tua avózinha já os leu? E todas as lágrimas que ela chorou, quando era moça como tu, pelos amores de Ceci e da Moreninha, ficaram fazendo parte do teu ser, para sempre.
Como vês, minha filha, a hereditariedade nos poupa muito trabalho.

A Arte de Ler
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou até a presente linha. Neste momento já interrompeu a leitura e está continuando a viagem por conta própria.

Educação
O mais difícil, mesmo, é a arte de desler.

Leitura
Livro bom, mesmo, é aquele de que às vezes interrompemos a leitura para seguir — até onde? — uma entrelinha... Leitura interrompida? Não. Esta é a verdadeira leitura continuada.

O Assunto
E nunca me perguntes o assunto de um poema: um poema sempre fala de outra coisa.

A Coisa
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi própriamente dita.

Poema da Gare de Astapovo
O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos
E foi morrer na gare de Astapovo!
Com certeza sentou-se a um velho banco,
Um desses velhos bancos lustrosos pelo uso
Que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo
Contra uma parede nua...
Sentou-se ...e sorriu amargamente
Pensando que
Em toda a sua vida
Apenas restava de seu a Glória,
Esse irrisório chocalho cheio de guizos e fitinhas
Coloridas
Nas mãos esclerosadas de um caduco!
E então a Morte,
Ao vê-lo tao sózinho aquela hora
Na estação deserta,
Julgou que ele estivesse ali a sua espera,
Quando apenas sentara para descansar um pouco!
A morte chegou na sua antiga locomotiva
(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta...)
Mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,
E quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu...
Ele fugiu de casa...
Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade...
Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!

RECORDO AINDA
Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...
Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...
Estrada afora após segui... Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:
Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...

Poema
O grilo procura
No escuro
O mais puro diamante perdido.
O grilo
Com as suas frágeis britadeiras de
vidro
Perfura
As implacáveis solidões noturnas.
E se isso que tanto buscas só existe
Em tua límpida loucura
-que importa? -
Exatamente isto
É o teu diamante mais puro!

RITMO
Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco

Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes

No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa

até que enfim
se desenrola
toda a corda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Canção da Garoa
Em cima do meu telhado
Piruli lulin lulin,
Um anjo, todo molhado,
Soluça no seu flautim.
O relógio vai bater:
As molas rangem semfim.
O retrato na parede
Fica olhando para mim.
Chove sem saber porquê
E tudo foi sempre assim!
Parece que vou sofrer:
Pirulin lulin lulin

Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
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Pitaco do Diovvani, sempre bem vindo:

"Olho em redor do bar em que escrevo estas linhas.
Aquele homem ali no balcão, caninha após caninha,
nem desconfia que se acha conosco desde o início
das eras. Pensa que está somente afogando problemas
dele, João Silva... Ele está é bebendo a milenar
inquietação do mundo!"

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Colaboração na imagem de minha querida amiga Valéria C., que veio para ficar (ôba) e abrilhantar nosso espaço.
Caricatura de Tacho, durante uma exposição no Centro Cultural Mario Quintana, de Porto Alegre, pescada por mim aqui.
Clarice Ge

10 de ago. de 2007

Emílio Moura (1902-1971)

Batizado por Paulo Mendes Campos de “andarilho do Velho Testamento”, Emilio Moura ostenta uma Poesia assinalada pelo transcendental. Nos dizeres de Fábio Lucas, responsável pela compilação de poemas que integram a obra “poesia de Emílio Moura”, lançada pela Art Editora, em 1991, seus versos revelam “ao mesmo tempo, indagação do universo, busca do outro e descoberta de si”.
Em entrevista feita pelo jornal “o Binômio”, em 1961, Emílio declarou expressamente que “não cabe ao poeta definir a sua Poesia: esta é que o define”.
Pois então, venhamos e convenhamos, se ele mesmo se eximiu de explicar sua obra, quem sou eu pra saber mais que o poeta sobre os frutos de suas próprias mãos? Mesmo porque, sou um humilde adepto desta opinião dele, a de que não cabe ao poeta justificar-se, pois a arte tem vida própria e reverbera sempre de uma maneira diferente em cada poeta-leitor.
Pois bem, deixemos de prosa, porque o que interessa debaixo da copa frondosa desta Árvore é colher a Poesia mais madura. O que importa é saber o sabor desta Árvore da vida.
Acredito esperançosamente que, mais que agradáveis descobertas, a Árvore dos Poemas também haverá de nos proporcionar a redescoberta de muitos nomes notáveis que tantas vezes têm passado despercebidos, empoeirados pelo descaso ou vulgarizados.
Fico por aqui, então, e deixo três das inumeráveis preciosidades literárias do poeta Emílio, este memorável mineiro de Dores do Indaiá. Aliás, é realmente impressionante como Minas sempre esteve bem servida de poetas resplandecentes...
Saudações a todos, e que a Poesia esteja sempre em nossos corações, “apesar de tudo”!

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Permanência da poesia

Quando a luz desaparecer de todo,
Mergulharei em mim mesmo e te procurarei lá dentro.

A beleza é eterna.
A poesia é eterna.
A liberdade é eterna.
Elas subsistem, apesar de tudo.

É inútil assassinar crianças. É inútil atirar aos cães os que,
de repente, se rebelam e erguem a cabeça olímpica.
A beleza é eterna. A Poesia é eterna. A liberdade é eterna.
Podem exilar a poesia: exilada, ainda será mais límpida.

As horas passam, os homens caem,
A poesia fica.

Aproxima-te e escuta.
Há uma voz na noite!

Olha:
É uma luz na noite!

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Libertação

Quando a multidão, que há de chegar, estiver toda, toda, nas ruas,
Ninguém mais se preocupará com o fio inquieto ou torturado de
meus pensamentos.
O meu vulto não projetará nenhuma sombra ao redor de mim.
Ninguém procurará entender, ninguém!
Certamente o sentido de minha derrota há de pairar como um
signo trágico sobre a cabeça de cada um deles,
mas será também como um signo inútil em que ninguém atenta.
Ah! então eu serei livre, livre,
e, antes de mim, como depois de mim, todos os mistérios
poderão permanecer invioláveis.

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Poema

Já não olhamos para o alto,
nem para baixo.
Vivemos sob a terra, almas subterrâneas, vozes sem eco.

Entretanto existes.
Sentimos que existes, mas é inútil,
e, insensíveis, nos calamos.
Já não temos braços, nem pernas.
Já perdemos a graça de compreender o que nos poria de novo,
sob o Teu signo.
Mergulhados no tempo, em vão queremos descobrir onde nos
abandonaste.
Estrela solitária, navegas num céu indecifrável que ninguém
atinge.
Só os poetas Te reconhecem.
Só as crianças é que ainda Te procuram como se tivessem asas.
A eternidade Te revelou quando ainda não havia noite.
A eternidade Te conservará até que a última noite desapareça.


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crédito/imagem: http://emiliomoura.br.tripod.com/

1 de ago. de 2007

Ana Cristina César (1952 - 1983)

Noite Carioca
Diálogo de surdos, não: amistoso no frio. Atravanco na contramão. Suspiros no contrafluxo. Te apresento a mulher mais discreta do mundo: essa que não tem nenhum segredo.

...
Minhas primeiras mal-traçadas por aqui é sobre uma poeta. Uma, como ela dizia, “mulher do século 19, disfarçada em século 20”. Uma poeta que viveu como quem despede a raiva de ter visto, e que, por isso, demitiu-se de seu viver esperando, talvez, que a morte lhe pudesse ser – oxalá tenha sido – um descanso calmo e doce, um doce e calmo descanso. Estou falando de Ana Cristina Cruz César. Ana Cristina César para alguns, ou simplesmente Ana C., para outros. Conheci a sua poesia em 1984. Estudava meu primeiro ano de faculdade na Unesp, no campus de Marília (SP). Estávamos em greve e havíamos invadido o prédio da reitoria em São Paulo e os de alguns campus – entre eles, o de Marília. A situação era mais ou menos tensa. Havia a possibilidade de a polícia invadir o campus para retirar-nos. Eu estava sendo um dos acusados de ter cometido um ato de violência contra uma professora contrária às nossas reivindicações estudantis: ter destruído o seu material de estudos e pesquisas com a espuma de um extintor de incêndio. Não havia sequer sido favorável a esse ato lamentável, mas, por injunções, tinha de manter uma certa ambigüidade. Havia a acusação, os depoimentos e até um possível processo. O píncaro da caceteação! Numa dessas noites, Tatau (um poeta concretista, aluno de filosofia) entregou-me uns papéis mimeografados. Pediu que eu os lesse. Segundo ele, iriam me fazer bem Eram poemas de Ana Cristina César. E eu li. E ainda leio-os. Como se fossem uma luta que encarcera o último apelo que intimida. Como uma semente poética. Como confidências de um ancião enquanto o entardecer reza. Ou, melhor ainda, como uma nesga súbita que eu vi. Ou que eu li. Hora de sua poesia:
.
Olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
na gengivas.
______________
Acreditei que se amasse de novo
Esqueceria outros
Pelo menos três ou quatro rostos que amei
Num delírio de arquivística
Organizei a memória em alfabetos
Como quem conta carneiros e amansa
No entanto flanco aberto não esqueço
E amo em ti os outros rostos.
(em Contagem regressiva – Inédidos e dispersos)
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A PONTO DE PARTIR
A ponto de
partir, já sei
que nossos olhos
sorriam para sempre
na distância.
Parece pouco?
Chão de sal grosso, e ouro que se racha.
A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.
Lentes escuríssimas sob os pilotis.

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UM BEIJO
que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor.

______________
Noite de Natal.
Estou bonita que é um desperdício.
Não sinto nada, mamãe
Esqueci
Menti de dia
Antigamente eu sabia escrever
Hoje beijo os pacientes na entrada e na saída
Com desvelo técnico.
Freud e eu brigamos muito.
Irene no céu desmente: deixou de
Transar aos 45 anos
Entretanto sou moça
Estreando um bico fino que anda feio,
Pisa mais que deve,
Me leva indesejável pra perto das
Botas pretas
Pudera.
______________
ESTE LIVRO
Meu filho. Não é automatismo. Juro. É jazz do
Coração. É prosa que dá prêmio. Um tea for two
Total tilintar de verdade que você seduz,
Charmeur volante pela posta, a toda. Enfie a
carapuça.
E cante.
Puro açúcar branco e blue.

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TRECHOS DE POEMAS DO LIVRO INÉDITOS E DISPERSOS:

Esvoaça... Esvoaça... "É como a vela que se apaga, E a fumaça sobe e se atenua. É o amor fraco que se apaga, Não adiantam poemas para a lua.
Sofre o homem, o amor acaba E a doce influência esvoaça Como o fio adelgaçado De fina e translúcida fumaça Esvoaça, esvoaça... Atenua o amor, Atenua a fumaça. Para que tanta dor? E o amor que vai sumindo, Adelgaça, esvoaça, esvoaça... (maio/1963)
______________
Cultivado por Marcos Pardim, com uns pitacos meus - Diovvani Mendonça, na seleção dos poemas. Peço desculpas ao amigo Marcos – é que o universo da Ana Cristina, é tão rico e gosto tanto de seus poemas, que não resisti e inseri na postagem, mais algumas palavras dela. Acredito que de agora em diante, as postagens dos plantadores pegarão o ritmo semanal proposto.