Para minha primeira contribuição nesta querida árvore trago uma das minhas primeiras paixões na poesia: Pablo Neruda.
Há uns 10 anos atrás assisti ao filme "O carteiro e o poeta" (do diretor Michael Radford) e imediatamente me apaixonei. Pelo filme e pelo Poeta. Pablo Neruda nasceu no Chile, mas sua poesia não pertence ao Chile. Sua poesia é universal. E assim como o carteiro do filme, eu escrevi bilhetinhos de amor com seus poemas (nunca os mandei, mas isso já é outra história), e como o amor é um sentimento inerente a nós, humanos de carne, osso e coração, é muito fácil se identificar com a poesia de Neruda. Mas Neruda não é só amor. Ele também é solidão. Ele também é político. Ele também é cotidiano. Sua poesia é gostosa de se ler em voz alta. Sua poesia é gostosa de se ler à sombra de uma árvore...
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Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
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Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
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Walking Around
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
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Perguntaram o que acontecerá com a poesia no ano 2000.------------
Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.
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Há outros dias que não têm chegado ainda,
que estão fazendo-se
como o pão ou as cadeiras ou o produto
das farmácias ou das oficinas
- há fábricas de dias que virão -
existem artesãos da alma
que levantam e pesam e preparam
certos dias amargos ou preciosos
que de repente chegam à porta
para premiar-nos
com uma laranja
ou assassinar-nos de imediato.
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Walking Around
Acontece que me canso de meus pés e de minhas unhas,
do meu cabelo e até da minha sombra.
Acontece que me canso de ser homem.
Todavia, seria delicioso
assustar um notário com um lírio cortado
ou matar uma freira com um soco na orelha.
Seria belo
ir pelas ruas com uma faca verde
e aos gritos até morrer de frio.
Passeio calmamente, com olhos, com sapatos,
com fúria e esquecimento,
passo, atravesso escritórios e lojas ortopédicas,
e pátios onde há roupa pendurada num arame:
cuecas, toalhas e camisas que choram
lentas lágrimas sórdidas.
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É uma pergunta difícil. Se esta pergunta me assaltasse
num beco escuro me levaria um susto de pai e senhor meu.
Porque, o que sei eu do ano 2000? Do que estou seguro é
de que não se celebrará o funeral da poesia no próximo
século.
Em cada época deram por morta a poesia, mas ela se
vem demonstrando vitalícia, ressuscita com grande
intensidade, parece ser eterna.
A poesia acompanhou os agonizantes e estancou as dores,
conduziu às vitórias, acompanhou os solitários,
foi ardente como fogo, ligeira e fresca como a neve,
teve mãos, dedos e punhos, teve brotos como a primavera:
fincou raízes no coração do homem.
------------ Pablo Neruda ------------
10 comentários:
Neftali Ricardo Reyes, O bom Neruda! Presentão, Mah, vc trouxe! Taí um Nobel merecido, que junto com Gabito honra a literatira latina. E como ele, a cada dia vejo a poesia ir mais além. Juntos vamos lutando pela sua eternidade. Quero que meus netos envelheçam lendo versos!
vlw, Mah!
bjsss
estreou sensacionalmente.
neruda é demais!!!
bjo
Pablo Neruda, o poeta do amor! Putz! Gosto MUITO do Neruda!
"Amo o amor que se reparte
em beijos, leito e pão.
Amor que pode ser eterno
mas pode ser fugaz.
Amor que se quer liberar
para seguir amando.
Amor divinizado que vem vindo.
Amor divinizado que se vai."
Vamo combinar, MARAVILHOSO! Maravilhosa escolha!
Abraço!
Pablo Neruda...maravilhoso!
Como faço pra participar dessa árvore?
:P
Espero resposta...bom fim de semana!
Beijos
tem um poema do Pablo (do livro "ainda" que termina mais ou menos assim (e que eu adoro) :
"...foi meu destino amar e despedir."
beijo.
Neruda, está entre os primeiros poetas, que me conduziram à casa da poesia. Maravilha, Marina!!! ^~^^~Abraço~^^ ~^^ ~^ ~
Que bacana isso aqui!
Não conheço Neruda, mas a postagem ficou mto legal... bastante tocante... rssss.
Sou péssimo com poemas, mas arrisco alguns... de uma forma mais escrachada e nada romântica, como se pode ver na minha última postagem... hehehehe
Abraços o/
a apresentação bem simples, um convite de amigo, daqueles que não precisam fazer um discurso pra convencer. a seleção dos poemas, também, de muito bom gosto! aliás, o poeta aqui homenageado era da predileção de meu pai. mas não é para menos, porque Neruda é no mínimo inspirador. seus poemas são como uma flor cheirosa, de um olor tão bom, que quando a gente respira, enche os pulmões, na tentativa de aproveitar ao máximo a sensação agradável que nos causa.
só de uma coisa discordo, mais aí é questão de opinião, e cada um tem a sua: acho que Neruda é pra ser lido quase que sussurrando...
em suma, Marina, adorei!
foi um prazer estar aqui, compartilhando um pouco deste legado poético universal, à sombra desta árvore maravilhosa!
beijos!
, hoje que dei por mim que não havia comentado marina morena e pabblo neruda. mais que disparate este meu. desculpa...
, conheço pouco de neruda. só alguns fragmentos. preciso ler mais e rever o filme, anotado.
, beijos meus marina.
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